O Anônimo
Aqui na nossa cidade onde todo mundo sabe da vida de todo mundo, existe um
sujeito curioso: o Anônimo. Ele não aparece em festa, não dá bom-dia na praça,
não é voluntário em nada, e olhe que tem muitos trabalhos sociais precisando de
gente de boa vontade. Podia estar ajudando numa campanha, mas não: prefere
gastar seu tempo jogando veneno por ai. Sua voz surge como um sopro venenoso,
escondida em bilhetes, mensagens maldosas, recados atravessados e até fofocas
mal plantadas no ar
O Anônimo não quer aparecer, mas vive com os olhos arregalados na vida alheia.
Enquanto todos trabalham, ele vigia; enquanto uns caem e levantam, ele torce pela
queda. Disfarça-se de cidadão exemplar, quase um santo de procissão, desses que
anda de nariz empinado e fala de honestidade como se fosse dono da patente.
Mas a verdade é que sua maior ocupação é minar o que os outros constroem. Joga
notícias falsas como quem espalha milho para atrair galinha, esperando ver a confusão
se formar. Vive tão preso na vida alheia que talvez nem saiba mais da sua própria.
Quem sabe não esteja precisando de um terapeuta, um psicólogo... ou, quem sabe, até
de um nutricionista: talvez trocando o excesso de fel por um pouco mais de fruta, seu
humor melhorasse.
O que ele não percebe é que sua existência não acrescenta nada. Não ajuda a cidade,
não move um dedo por ninguém, mas está sempre pronto a colher as vantagens. É, no
fundo, um parasita moderno, um sanguessuga travestido de cidadão.
E o mais irônico de tudo é que, no fim das contas, ele vive na sombra, com medo de ser
descoberto. Porque o Anônimo só é forte enquanto ninguém sabe quem é.
No instante em que a máscara cai, ele se revela apenas como aquilo que sempre foi: um
nada barulhento, vazio e sem coragem de assumir o próprio veneno.
Anonimato, não é a solução!
Um abraço!
Silvio Honorio